segunda-feira, 14 de setembro de 2020

A armadilha dos dividendos elevados

 Quando buscamos ações que pagam bons dividendos, é bem tentador se concentrar nos papéis com os maiores rendimentos (aquelas com elevado Dividend Yield). Mas, saiba que essa nem sempre é a melhor estratégia, pois há muito mais informação a se pesquisar em uma boa pagadora de dividendos do que apenas seu DY.

Os dividendos são normalmente pagos por empresas bem estabelecidas, mas também podem ser pagos ​​por empresas novas ou com problemas, que tentam atrair investidores. Uma armadilha de dividendos pode ocorrer quando os investidores são atraídos por um alto pagamento de rendimentos, mas apenas para descobrir depois que a empresa na verdade não foi uma compra tão boa.


Não existe almoço grátis na Bolsa

Alguns negócios são bons demais para ser verdade. Pense que você está procurando uma moto usada para comprar e encontra um vendedor ​​oferecendo um grande desconto na moto que você está interessado. Se o desconto for muito grande, você começa a se perguntar os motivos do vendedor oferecer um desconto tão bom... será que está sendo oferecido um gato por lebre? Embora, a qualquer momento, existam dezenas de ações preparadas para fornecer um grande retorno com dividendos aos investidores, um Dividend Yield muito alto pode justificar que se faça uma pesquisa mais a fundo.

O Dividend Yield é determinado pegando o pagamento anual total de dividendos e dividindo-o pelo preço das ações a mercado. Assim, se uma empresa está pagando R$ 10,00 em dividendos e JCP por ano enquanto o preço das suas ações na B3 é de R$ 100,00, o DY é de 10%. As mudanças na política de dividendos da empresa (que sempre podem acontecer) e as flutuações diárias no preço das ações negociadas, podem afetar este cálculo.

O primeiro sinal da armadilha pode ser quando você percebe que uma empresa está pagando dividendos muito superiores ao que seus pares ou concorrentes têm feito. Quando notar algo assim, o melhor a se fazer é olhar mais de perto. Procure saber se a empresa realmente tem capacidade para cumprir suas obrigações, se sua administração têm sido eficiente.

Se o preço das ações começar a cair sem parar, ou a empresa apresentar quedas no lucro (quem sabe até mesmo prejuízos), o alto DY pode ser apenas uma armadilha. 

Se procurarmos um pouco, podemos encontrar diversos exemplos, até mesmo bem recentes, de empresas pagando altos dividendos sem ter condições para isso, em alguns casos podemos ver empresas pagando dividendos mesmo tendo apenas prejuízos e um endividamento cada vez maior.


Os alertas que a empresa dá

Antes de comprar uma ação, faça uma boa pesquisa primeiro, tente também entender como ela ganha dinheiro.

O primeiro passo em sua pesquisa, pode ser verificar quanto do lucro líquido da empresa vai para o pagamento de dividendos. Por exemplo, se a empresa obtiver R$ 100.000 de lucro este ano e pagar R$ 20.000 em dividendos e JCP, ela usou 20% do lucro para pagar DY.

Mas, se a empresa ganha R$ 100.000 e está pagando R$ 250.000 em dividendos e JCP, o índice de pagamento é de 250%, ou seja, a empresa está pagando bem mais do que ganha, pode inclusive estar se endividando ou destruindo seu  valor apenas para pagar mais aos acionistas. Uma empresa que está pagando a maior parte do que ganha ou, pior,  mais do que ganha, não conseguirá manter os pagamentos de dividendos nesse nível por muito tempo e ainda pode estar com problemas financeiros.

Quando os lucros ou o fluxo de caixa estão diminuindo, mas os pagamentos de dividendos estão aumentando ou apenas continuam em patamar elevado, também podemos perceber indícios de algo não está bem. Quando os lucros ou o fluxo de caixa estão sempre diminuindo, a menos que essa tendência mude ou que seja algo pontual (como alguma despesa ou investimento não recorrentes), a empresa provavelmente não conseguirá se manter no mesmo patamar por muito tempo.

Também pode acontecer de as empresas resolverem alterar sua política de dividendos a qualquer momento, optando por pagar apenas o rendimento mínimo. Por exemplo, a empresa Exemplo S.A. anuncia que está reduzindo o pagamento de dividendos, mas o anúncio só entrará em vigor no próximo ano. Para o ano atual, o pagamento de dividendos parece atraente, mas no próximo ano o pagamento de dividendos cairá pela metade. Porém, neste caso, não é necessariamente ruim, pois a empresa pode optar por investir mais no crescimento do negócio ao invés de pagar dividendos, e esse crescimento pode ser bom para o acionista no longo prazo.

Outro caso muito comum, pode acontecer com os cotistas de fundos imobiliários (FIIs). È comum que alguns FIIs novos no mercado ofereçam o pagamento de renda mínima garantida (RMG) por certo período após o lançamento de suas cotas no mercado e, muitos desavisados, acabam olhando apenas o DY e pensam que aquele rendimento será sustentável a longo prazo, e isto infelizmente pode não acontecer e, ao fim da RMG, seu rendimento mensal e o valor da cota podem ficar bastante aquém do esperado. Para evitar essa armadilha, basta ler os relatórios que os FIIs disponibilizam e comparar o dinheiro que entra no caixa com o dinheiro que sai e as explicações dos gestores sobre como está a vacância e as expectativas do fundo.

Nem todas as empresas ou FIIs que pagam bons dividendos estão com problemas, existem setores que realmente tendem a pagar mais, mas os investidores devem sempre questionar por que uma empresa está disposta a pagar mais do que seus pares do mesmo segmento. Quando algo parece bom demais para ser verdade, lembre que não existe almoço grátis e que mais pesquisas são necessárias.

Vocês já caíram em alguma dessas armadilhas? Eu já.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Dividendos! O que são? Por que gostamos tanto deles?

O conceito de dividendos é algo bastante simples de entender. Nada mais é do que a parte do lucro obtido pela empresa que é paga ao seus sócios.

Eles são utilizados não só nas empresas listadas em Bolsa, mas qualquer empresa que tenha lucro pode distribuir dinheiro aos seus sócios como remuneração. Assim, padarias, mercados, lojas de roupas, farmácias, lanchonetes... todos podem distribuir dividendos aos seus sócios.

Nas companhias de capital aberto brasileiras, segundo a Lei das Sociedades por Ações (LEI Nº 6.404, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1976.), os acionistas têm o direito a receber um dividendo obrigatório (obviamente, se a empresa tiver prejuízos seguidos, não será obrigada a pagar dividendos), por exercício, conforme for estabelecido no estatuto da empresa ou, caso não exista tal informação no estatuto, o dividendo têm de ser pago de acordo com as regras das Leis 6.404/1976 e 10.303/2001 (aconselho uma rápida leitura, para quem tiver tempo).

Ocorre que, quando o estatuto não prevê o dividendo obrigatório e a assembléia-geral da empresa deliberar alterar este estatuto para incluir esta norma, o dividendo obrigatório não poderá ser inferior a 25% (vinte e cinco por cento) do lucro líquido ajustado (ajustado, quer dizer subtrair do lucro os valores destinados á constituição da reserva legal e à formação da reserva para contingências, um dia teremos uma postagem explicando melhor o que isto significa).

Agora que já sabemos o que são dividendos, por quê gostamos tanto assim deles?

A resposta é simples... O pagamento de proventos é uma das principais maneiras de remunerar os acionistas (pagamento de Dividendos e JCP).

Para entender melhor, vamos exemplificar com uma ação negociada na B3:

Vamos simular a compra de 100 ações da seguradora Porto Seguro (PSSA3) pelo valor total de R$2.820,00 (ou R$28,20 por ação) em 18/03/2016.

Na  data de 16/06/2020 as ações da PSSA3 estão cotadas em cerca de R$49,95, ou seja, nossas 100 ações valem agora R$4.995,00 (valorização de 77% no período, mesmo estando na crise causada pela pandemia do COVID-19).

Já os proventos pagos em forma de Dividendos e JCP foram os seguintes:



Assim, tivemos:

 - Investimento: R$ 2.820,00.

 - Retorno (valorização+proventos): R$ 3.089,57 (quase 110% de ganhos no período de 4 anos e 3 meses).

 - CDI do período: 38,25%.

 - Índice de inflação IPCA do período: 15,69%.

Olhando esta simulação feita com dados reais, é inegável que a compra das ações foi um bom investimento.

Mas, imaginemos as possibilidades que os proventos podem nos proporcionar:

1 - Poderíamos reinvestir os valores e, no longo prazo, potencializar bastante nossos lucros ( a tal da "bola de neve", ideal pra quem foca no aumento do patrimônio diversificado);

2 - Poderíamos gastá-los para nosso sustento (geração de renda passiva) ou com qualquer outra coisa e, ainda assim, teria sido um bom investimento, com crescimento acima da inflação e do CDI. (ideal para quem quer viver de seus rendimentos ou já está aposentado)

Ou seja, os Proventos (Dividendos, Rendimentos e JCPs) nos permitem um fluxo de Caixa bastante agradável e nos dão o "poder" de escolher o que fazer com eles (reinvestir ou torrar).

Mas, será que todas as empresas ou fundos imobiliários que paguem um elevado dividend yield (DY) são um bom investimento??? Você sabe o que é o dividend yield (DY) ??? E o que é uma DFC???

E, aquelas empresas que quase não pagam dividendos, o que acham delas??? Para onde vai seu lucro???



quarta-feira, 27 de maio de 2020

O que é dinheiro?

Afinal, o que é e de onde veio o dinheiro? Na prática, a explicação mais simples é que o dinheiro é um meio de troca, ou seja, uma unidade de valor que tem o objetivo de facilitar a avaliação e o cálculo nas "trocas" que fazemos; Hoje, com a idéia moderna de dinheiro, podemos fazer transações econômicas que sejam conduzidas durante longos períodos (como parcelar no cartão de crédito) e também a grandes distâncias geográficas (como comprar produtos da China).

 Para desempenhar todas essas funções e ser considerada dinheiro, a moeda tem que estar disponível, ser durável, fungível (que se pode consumir, trocar), portátil (afinal, tem que caber nos bolsos...) e confiável (as pessoas precisam acreditar que a moeda têm valor). Por preencher a maioria desses critérios, os metais têm representado a idéia de moeda ao longo dos milênios, como ouro, prata, bronze... até mesmo o barro (que nem metal é) foram considerados como as primeiras matérias-primas monetárias ideais.

Afinal, o que torna o dinheiro confiável? (pelo menos na teoria...)...Se o dinheiro é uma questão de confiança ou até mesmo de fé, essa confiança pode ser baseada na pessoa que está nos pagando, confiança na pessoa que emite o dinheiro ou, como é na atualidade, na instituição que emite o dinheiro, que honra os seus cheques ou as suas transferências. Nem sempre o dinheiro foi emitido como é hoje... Nem sempre foi emitido por instituições... E, alguns dizem, nem sempre será assim (será???)... Portanto, dinheiro é a confiança que se "registra" na moeda.

Na verdade, dizem que o dinheiro ( e o principio da contabilidade! Sim, ela sempre está por perto...) surgiram na idade antiga, na região da mesopotâmia (3000 a.c.), para facilitar o nobre comércio local (Para trocar por Cerveja! sim, é sério, cevada... com o objetivo de fazer cerveja...). Existe até um "Game" premiado, criado por professores da USP, que tenta explicar o surgimento do dinheiro e da contabilidade na história. (Para quem quiser, está no https://deborahahg.wixsite.com/deborah).

Até mesmo Karl Marx escreveu muito sobre o dinheiro, na verdade era seu principal tema, e procurou demonstrar num dos seus livros mais conhecidos, "O capital", como o dinheiro era simplesmente a transformação de trabalho em mercadoria, ou seja, segundo ele o excedente gerado pela suada "labuta" do proletário seria apropriado para satisfação da insaciável luxúria típica da classe capitalista malvadona e ávida pelo acúmulo de grandes riquezas em detrimento dos pobres coitados (pior que, na verdade, era  quase isso mesmo naquela época...). Enfim, ele fala bastante coisa interessante (na minha opinião...), só que ele não sugere nenhuma solução melhor e ainda comete um grave erro conceitual... Pois, se o trabalho por si só gera dinheiro, eu poderia cavar um buraco no meu quintal usando uma pá de jardinagem até ficar rico! Afinal, daria um baita trabalho... (óbvio que eu sairia frustrado ...), sem falar que nos últimos 150 anos o mundo mudou um "pouco" (sempre com o dinheiro no meio da história).

Vou pular aqui, a parte em que inventam o efeito multiplicador da moeda e a parte que nem de moeda se precisa mais (afinal, inventaram o dinheiro virtual).

Entretanto, vou falar um pouco sobre o tema da última década, as "criptomoedas" e a tecnologia blockchain, começando pelo exemplo da famosa "Bitcoin".
Ninguém sabe ao certo quem criou Bitcoin, sabe-se que é algo limitado e baseado na tecnologia blockchain, não tem nenhum tipo de lastro, não pertence a nenhuma instituição ou governo e quase ninguém aceita como forma de pagamento no comércio em geral com a justificativa de que seu valor oscila muito.

Então, será que as criptomoedas e Bitcoin são mesmo moedas? E o real, não oscila bastante também?

A continuação desse texto terá que ficar para outro dia... Mas... E você? O que acha? Troca reais por Bitcoin? Têm na sua Carteira?